Hugo R C Souza
Nos quatro dias do feriadão do dia da “Independência”, entre 4 e 7 de setembro, os agentes de Eduardo Paes prenderam 11 guardadores de carros nas imediações dos pontos turísticos do Corcovado e do Pão de Açúcar. Além disso, apreenderam quatro isopores, um carrinho para transportar mercadorias e 41 capas de chuva em mais uma operação do choque de ordem fascista da prefeitura da capital fluminense.
Estes números exatos foram divulgados pela Secretaria Especial da Ordem Pública do Rio de Janeiro (Seop) com o orgulho de quem cumpre com primor a incumbência recebida. No caso, a de impor castigos e humilhações à gente pobre que se vira como pode para ganhar a vida.
Poucos dias antes, em outro ataque do choque de ordem, outros cinco guardadores foram detidos no bairro de Ipanema. A imprensa burguesa da cidade, fomentando o ódio de classe e sempre preparando o clima para um novo “choque” e mais criminalização, noticiou que os agentes de Paes “encontraram com eles [os flanelinhas] 20 chaves de carros e cerca de R$ 300”.
Nada mais natural para quem está guardando e manobrando carros para os bacanas nas ruas da Zona Sul, e recebendo por isso. Mas a forma e o léxico do noticiário são direcionados para caracterizá-los como bandidos, tanto que, ao informar o nome das ruas onde os flanelinhas foram presos, o monopólio da imprensa, em uníssono, não disse que era ali que eles trabalhavam, mas sim que era ali que eles “agiam”. O Secretário de Ordem Pública, Alex Costa, disse que todos os guardadores não registrados na prefeitura “praticam o crime de extorsão”.
Quem também “agiu”, segundo a imprensa burguesa carioca, desta vez no lado de fora do estádio do Maracanã no dia do clássico entre Vasco e Fluminense pelo campeonato brasileiro de futebol, no dia 22 de agosto, foram os cambistas. Uma recente alteração do Estatuto do Torcedor tornou crime a prática de comprar ingressos para jogos de futebol para revendê-los mais caros na última hora nos arredores do estádios – oportunidade de ganhar dinheiro que a vida dá a muitos desempregados castigados pelo capitalismo livre-cambista.
Todo o povo sujeito à prisão
Apesar da ferocidade dos reiterados ataques de Eduardo Paes contra as classes populares da cidade do Rio de Janeiro, a criminalização das estratégias de sobrevivência das massas precarizadas não é uma invenção ou exclusividade da gerência carioca de turno. Ao contrário. E o que a reação quer não é apenas reprimir os camelôs, os “flanelinhas” ou os cambistas.
A criminalização também das formas de lazer das classes populares ou das suas manifestações de transgressão e insatisfação deixa claro que o sonho jurídico, por assim dizer, das classes dominantes é que todo o povo esteja de uma forma ou de outra sujeito à prisão.
A sanha que começou no Brasil colônia com os castigos aos capoeiristas aparece perpetuada no Brasil semicolônia com a criminalização da promoção de bailes funk. Tudo em meio aos clamores dos reacionários por “tolerância zero” com tudo o que vem do povo, exigindo que tudo desague na penitenciária.
A exemplo dos cambistas, os mais novos alvos da sanha carcereira do Estado policial parecem ser os pichadores. No final do último mês de agosto, a polícia civil de Minas Gerais enquadrou seis pichadores por formação de quadrilha como parte da operação “Respeito por BH”, a versão criada pela gerência de Belo Horizonte dos choques de ordem de Eduardo Paes. O mote? “Limpar” a cidade para receber o circo da Copa do Mundo de 2014. A prática da pichação costuma ser punida com base na Lei de Crimes Ambientais e tem pena de seis meses a um ano de prisão, e a pena costuma ser convertida em prestação de serviços. Enquadrados em formação de quadrilha, a rapaziada pode pegar até três anos de prisão.
A reação exacerbada das classes dominantes aos pichadores mostra que a parede é mesmo a imprensa dos pobres, como disse certa vez o escritor uruguaio Eduardo Galeano, e como prova a série de pichações que AND publicou na capa de sua última edição, com as conclamações do povo para o boicote à farsa eleitoral pintadas nos muros das cidades.
A criminalização também das formas de lazer das classes populares ou das suas manifestações de transgressão e insatisfação deixa claro que o sonho jurídico, por assim dizer, das classes dominantes é que todo o povo esteja de uma forma ou de outra sujeito à prisão.
A sanha que começou no Brasil colônia com os castigos aos capoeiristas aparece perpetuada no Brasil semicolônia com a criminalização da promoção de bailes funk. Tudo em meio aos clamores dos reacionários por “tolerância zero” com tudo o que vem do povo, exigindo que tudo desague na penitenciária.
A exemplo dos cambistas, os mais novos alvos da sanha carcereira do Estado policial parecem ser os pichadores. No final do último mês de agosto, a polícia civil de Minas Gerais enquadrou seis pichadores por formação de quadrilha como parte da operação “Respeito por BH”, a versão criada pela gerência de Belo Horizonte dos choques de ordem de Eduardo Paes. O mote? “Limpar” a cidade para receber o circo da Copa do Mundo de 2014. A prática da pichação costuma ser punida com base na Lei de Crimes Ambientais e tem pena de seis meses a um ano de prisão, e a pena costuma ser convertida em prestação de serviços. Enquadrados em formação de quadrilha, a rapaziada pode pegar até três anos de prisão.
A reação exacerbada das classes dominantes aos pichadores mostra que a parede é mesmo a imprensa dos pobres, como disse certa vez o escritor uruguaio Eduardo Galeano, e como prova a série de pichações que AND publicou na capa de sua última edição, com as conclamações do povo para o boicote à farsa eleitoral pintadas nos muros das cidades.