sábado, 16 de julho de 2011

Tratores da prefeitura atacam comerciantes do Morro da Mangueira


Na tarde de ontém e hoje, nossa equipe de reportagem esteve no Morro da Mangueira, no Rio de Janeiro, onde no domingo, dia 26 de junho, a prefeitura, aproveitando a chegada da UPP à favela, demoliu mais de quarenta estabelecimentos comerciais. As barracas ficavam na rua Visconde de Niterói, em frente à quadra da escola de samba Estação Primeira de Mangueira. Nenhum dos comerciantes recebeu qualquer tipo de aviso prévio, a não ser uma notificação para desocupação de área pública, dando aos trabalhadores 24 horas para retirar suas coisas e deixar o local.
A maioria dos comerciantes atingidos depende dos estabelecimentos para sobreviver e garantir o sustento de suas famílias. Contudo, o processo de remoção foi conduzido com indiferença pela prefeitura, representada na ocasião pelo subprefeito da zona norte, André Santos, e pelo secretário de habitação, Jorge Bittar. A comissão formada pelos moradores para lutar por algum tipo de reparação recebeu nossa equipe de reportagem na tarde de hoje e muitos dos comerciantes atacados desabafaram.
Eu estou aqui há 10 anos. Já trabalhei outros cinco anos na rua, com material na mão. Depois a gente conseguiu esse espaço e começamos a trabalhar aqui, nessa vida ingrata de comerciante. Um dia você consegue vender alguma coisa, outro dia você fica na mão. Mas mesmo assim, estamos aqui, debaixo de sol e de chuva, trabalhando pra sobreviver. Eu, meu marido, minha filha, minhas netas, todos nós trabalhávamos aqui para garantir nosso sustento. Nós estávamos em uma reunião, quando, do nada, começaram a demolir. Deram um documento pra gente dizendo que tínhamos 24 horas pra sair. Não dava tempo nem de tirar as nossas coisas. Alguns conseguiram tirar tudo, outros perderam material — diz a comerciante Kátia Helena, de 46 anos.
Eu estou muito triste, porque tinha uma história de um projeto da prefeitura pra melhorar as nossas condições de trabalho, mas a gente sabe como é político, né? Eles vivem de palavras e nós não precisamos de palavras, a gente precisa de trabalho, documentação, organização, preciamos que eles façam a coisa certa e não chegar fazendo como foi feito, tirando a gente de uma hora pra outra. Isso aqui representava muita coisa culturalmente. As pessoas vinham visitar a quadra, o morro e sempre paravam aqui, tomavam alguma coisa, batiam papo. Não pode acabar com tudo isso assim, do nada — protesta.

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