quinta-feira, 8 de maio de 2008

Coordenador fascista da UFBA renúncia ao cargo

Dias depois de tentar justificar a incompetência de sua gestão fazendo afirmações criminosas que desmerecem o valor da cultura e do povo baiano, Antonio Dantas foi obrigado a renunciar ao cargo de coordenador da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia.

Dia 30 de abril o Ministério da Educação divulgou a lista dos 17 cursos que vão ser supervisionados pelo MEC devido às baixas notas no Enade (Exame nacional de desempenho de estudantes). Antes mesmo da sua realização, o exame já era contestado por estudantes de todo o país por gerar uma futura descriminação aos alunos das faculdades mal-avaliadas no mercado de trabalho. Entre os cursos reprovados na avaliação está a Faculdade de Medicina da UFBA (Fameb), até então coordenada por Antônio Dantas, de 67 anos.

Em uma frustrada tentativa de justificar a ineficiência de sua gestão e esconder a insatisfação e boicote dos estudantes ao Enade, o ex-coordenador afirmou que o péssimo resultado — nota 2 em uma escala até 5 — é conseqüência do baixo QI (quociente de inteligência) dos estudantes baianos.

Se não houve boicote dos estudantes, o que não acredito, o resultado mostra a baixa inteligência dos baianos — afirmou Dantas, que ainda justificou suas palavras fazendo referência à colonização do Brasil, “que no Sul do país foi privilegiada pela presença de outros povos, como o europeu, diferente do nordeste, que foi prejudicado pela predominância dos negros”. De todas, essa foi a alegação do ex-coordenador que melhor configura o ato de racismo, mas que porém está sendo ocultada pelo monopólio dos meios de comunicação, provavelmente para amenizar a repercussão do caso em meio à tantos escândalos de corrupção nas universidades federais.

Com ares de superioridade, ele disse ainda que o resultado jamais poderia ser reflexo do desempenho dos profissionais ou dos coordenadores do curso, incluindo ele mesmo, e só pode ser justificado pela “falta de inteligência hereditária” dos baianos.

— O corpo docente da faculdade é qualificado e não seria justificativa para o mau resultado no exame. O baixo QI dos baianos é hereditário e verificado "por quem convive” [com os Baianos]. O que a gente pode fazer para melhorar a capacidade cognitiva das pessoas? Não tenho como mudar a genética. A prova do Enade não foi ruim. Ruins são os nossos alunos — disse o ex-coordenador, que não-satisfeito, ainda exemplificou suas palavras de maneira irônica.

O baiano toca berimbau [instrumento de capoeira] porque só tem uma corda. Se tivesse mais [cordas], não conseguiria — alegou Dantas em um ato de preconceito sem proporções, que desmerece o valor da cultura baiana para o povo brasileiro e suas influências africanas, como a capoeira e o berimbau, lembrando que a Bahia possuí a maior população negra do Brasil.

As declarações criminosas do ex-coordenador levaram-no a renunciar ao cargo nesse domingo, dia 4 de abril, sob forte pressão da comunidade acadêmica.

Depois de reitores que compram mobília de luxo com verbas da universidade, que desviam dinheiro público através de cartões corporativos ou que dão ordens para que a tropa de choque agrida estudantes; agora outros muitos criminosos começam a aparecer no comando de cursos e universidades públicas brasileiras. Mais uma vez a insignificante pena da renúncia substitui a prisão, desta vez pelo crime de preconceito, injúria, racismo e discriminação.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Chacinas policiais nas favelas do Rio deixam cada vez mais mortos

Em outubro de 2007, dados ainda parciais já apontavam a gerencia de Sérgio Cabral como a mais sangrenta da história (1.260 pessoas mortas pela polícia). Em 2008, com o apoio de Lula e o prosseguimento pontual da cartilha imperialista de extermínio da pobreza, Cabral quer se superar mais uma vez. As invasões policiais tornaram-se diárias e o número de inocentes mortos cada vez maior. Em apenas três favelas 40 pessoas foram mortas.

Em Bangu, dia 3 de abril, a polícia invadiu as favelas da Coréia e da Vila Aliança e matou pelo menos 12 pessoas. A chacina, que durou quase metade do dia, teve a participação de várias delegacias, entre elas a CORE (Coordenadoria de Recursos Especiais). De acordo com a diretora da creche comunitária da favela da Coréia, que ficou com medo de se identificar, crianças e educadores foram surpreendidos quando chegaram ao local antes das 7h da manhã e se depararam com uma base da polícia montada dentro da creche. O pátio, onde as crianças brincam, era usado pela CORE como local de pouso para os helicópteros. Além disso, os policiais teriam prendido todos em uma pequena sala proibindo funcionários e professores de usar o telefone. De acordo com a diretora em nota da Secretaria Municipal de Educação, professores e pais de alunos foram desrespeitados pela polícia, que arrombou os portões da creche e agrediu funcionários.

Dias depois da invasão, uma senhora foi até a Ordem dos Advogados do Brasil com a carteira de motorista, carteira de trabalho e contra-cheque do filho de 31 anos, executado pela polícia. De acordo com Margarida Pressburguer, presidente da comissão de direitos humanos da OAB, Clecio Amaral de Souza era motorista de vã e saia para trabalhar às 7h da manhã. Por causa do intenso tiroteio Clecio pediu abrigo na casa de um vizinho para se proteger. Policiais em um helicóptero viram Clecio entrando no barraco e ordenaram que policiais, em terra, invadissem o local. Depois de capturado, Clecio foi executado com um tiro na nuca e outro no peito, na frente de uma criança e de um homem, que seria o dono do barraco. O motorista que, mesmo desarmado, foi covardemente assassinado tinha anotações em sua carteira de trabalho desde os 15 anos, a última delas como gari da COMLURB.

Na manhã de terça-feira, dia 15 de abril o BOPE invadiu a Vila Cruzeiro, matou 9 pessoas e feriu outras 6. Nos dias seguintes à invasão o BOPE ocupou a favela e montou base no Posto de Policiamento Comunitário (PPC). Os traficantes fugiram para as comunidades vizinhas e os moradores, sem outra opção, seguiram suas vidas normalmente. Porém circular na favela com a presença do BOPE tornou-se um risco de vida iminente. Até agora outras 7 pessoas já foram mortas sem que se saiba a culpa de qualquer uma delas, já que nenhuma investigação foi, nem será feita.

Na tarde de sexta-feira, dia 25 de abril, policiais do BOPE invadiram a Cidade de Deus deixando onze mortos e pelo menos 5 feridos. Entre os feridos estavam duas senhoras, Maria José Silva foi baleada no glúteo, no braço e na perna, e Maria dos Anjos Mendes Cruz foi atingida no glúteo. Elas foram levadas para o hospital Lourenço Jorge e liberadas depois um período em observação. Já uma outra senhora, Jozélia Barros Afonso, de 70 anos, não teve a mesma sorte. Ela foi baleada quando estava dormindo e faleceu momentos depois, no hospital. O seu marido, Valdair da Conceição Afonso, era casado há 51 anos com Jozélia e disse ter certeza de que o tiro partiu dos policiais.