segunda-feira, 31 de março de 2008

Preparação de um novo massacre em Rondônia

A revista “Istoé” publicada no dia 26/03/2008 estampou em uma de suas reportagens de capa, matéria em que acusa a Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia (LCP) de ser um “grupo armado”, “organização guerrilheira”, “responsável por homicídios”, “desmatamento ilegal”, etc., etc. e etc.

Com o título de que “O Brasil tem guerrilha”, a dita revista, baseando-se em depoimentos do delegado de Buritis, Iramar Gonçalves, do grileiro de terras em União Bandeirantes Sebastião Conti Neto, membros da Policia militar Ambiental e do major Enedy Dias, ex comandante da PM em Jaru, a revista Istoé estimulada pelos grandes latifundiários da região requenta as velhas acusações de sempre contra a LCP, sem obviamente apresentar nenhuma prova concreta do que diz ser verdade. Senão vejamos:

- Logo no inicio da matéria a revista diz que o agricultor Paulo Roberto Garcia morto em fevereiro deste ano foi morto pela LCP. Entretanto na própria matéria diz que os assassinos estavam encapuzados, o que obviamente impede o reconhecimento de quem seriam os assassinos. Mas sem pensar duas vezes a revista acusa a LCP.

- Logo à frente a matéria acusa a LCP de ter aberto uma estrada para acesso a Bolívia. Essa referida estrada foi aberta em 2006 por mais de 1000 moradores do distrito de Jacinópolis com apoio da LCP para que a comunidade possa ter acesso à cidade de Nova-Mamoré a quem pertence o distrito de Jacinópolis. Entretanto como não é de costume do pseudo-jornalismo saber a opinião dos moradores do lugar sobre qualquer fato, a revista “Istoé” também não perguntou a nenhum morador de Jacinópolis a história desta estrada.

- A revista também diz que a LCP fecha estradas para que a polícia não entre no local. Ora a policia ambiental é odiada pela população de Jacinópolis pelos abusos que sempre fez naquela região, como parar caminhões carregados de madeiras extraídas da floresta para pedir propina sob ameaça de apreensão do caminhão, fato conhecido pela maioria dos moradores da cidade de Buritis. Parar moradores da região como se fossem bandidos sob a mira de armas, manter pessoas em cárcere privado, como fez em 2006 com um camponês que se perdeu na mata e foi mantido preso por três dias na sede da policia ambiental. Isso são fatos conhecidos de todos moradores de Jacinópolis e ao contrário do que diz “Istoé” é o motivo que tem levado à saída de moradores de Jacinópolis, além das seguidas operações do IBAMA, SEDAM, PF e exército que fechou as poucas madeireiras do projeto acabando com o emprego de muitas pessoas. Os rojões que tanto assustaram os pseudo-jornalistas da “Istoé” é a única defesa da população da região para não perder sua moto-serra, e sofrer abusos por parte da polícia.

- A acusação de “guerrilha” não nos surpreende. Pouco antes do chamado “Massacre de Corumbiara” em 1995, a grande imprensa de Rondônia também acusava os camponeses que ocuparam a fazenda Santa Elina de fazerem “treinamento de guerrilha” e o resultado todos sabem qual foi: homens, mulheres e até crianças assassinadas pela polícia e jagunços da fazenda. É esse o motivo da matéria da “Istoé” reproduzida aqui em Rondônia pelo jornal dos latifundiários Folha de Rondônia, ou seja, preparar o clima para um massacre em Jacinópolis, sonho dos latifundiários de Rondônia.

- Sebastião Conte Neto uma das fontes de “Istoé” é um conhecido grileiro de terras da união em Porto Velho e formador de milícias armadas em União Bandeirantes. Já o delegado Iramar Gonçalves tem vários processos na justiça sendo que em um deles é acusado de trabalho de pistolagem, juntamente com outros policiais civis, para o finado latifundiário Lourival Carlos de Lima responsável pela morte de vários camponeses inclusive pela tentativa de homicídio de uma criança de 12 anos em 2006. Já o major Enedy Dias é uma triste figura que foi forçada a abandonar Jaru após varias prisões sem mandato judicial e apoio a pistolagem.

Responsabilizamos desde já os governos estadual e federal por qualquer ataque que vier a acontecer a população de Jacinópolis.

Abaixo a imprensa marrom, serviçal dos latifundiários!

Abaixo a criminalização da luta pela terra!


Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia

sexta-feira, 28 de março de 2008

Nota de Repúdio da Liga dos Camponeses Pobres à mentirosa "matéria" de Istoé

Nota de Repúdio

Jaru, 25 de março de 2008

Repudiamos a matéria mentirosa, sensacionalista e criminalizadora que a revista “Isto É” tenta passar por reportagem, com chamada de capa na edição de N.º 2003-Ano 31.

Repudiamos que latifundiários bandidos, assassinos, escravocratas, grileiros e os principais responsáveis pela destruição das florestas de nossa região, que moram em mansões e andam de avião, sejam apresentados, neste panfleto do latifúndio travestido de “matéria Jornalística”, como se fossem dóceis velhinhos bem intencionados, que pretendem trazer o progresso para Rondônia, e que são impedidos, ameaçados e aterrorizados por camponeses maus!

Repudiamos uma vez mais, repudiaremos centenas, milhares de vezes, sempre que guaxebas, pistoleiros, jagunços, seguranças privados, contratados para aterrorizar e assassinar camponeses pobres, mulheres e crianças, nós denunciaremos sempre que forem apresentados pela imprensa como humildes trabalhadores inocentes, contratados para serviços diversos.

Repudiamos este tipo de matéria paga que têm o único e exclusivo objetivo de dar repercussão nacional e servir de justificativa para sórdidas campanhas repressivas, com direito a torturas e assassinatos de camponeses pobres, tratados por essa imprensa podre e preconceituosa como “combatente de grupo armado”, “trupe maltrapilha, encapuzada e arredia”, e tudo o mais que transforme estes camponeses da região amazônica, estes brasileiros homens, mulheres e crianças, em alvos para as balas da burguesia, do latifúndio e do imperialismo!

Repudiamos que sejamos acusados de “portar arsenal de guerra”, enquanto o repórter mau caráter coloca a foto de um pistoleiro, jagunço, guaxeba, como que escondido no mato, com uma frase que ocupa quase uma página inteira falando de guerrilha, enquanto a legenda explicando que se trata de pistoleiro do latifúndio é mínima!

Repudiamos a grosseira armação de colocar fotos de companheiros ao lado de cadáveres, com o objetivo de que os leitores reconheçam estes companheiros como os responsáveis por tal assassinato! Que teria ocorrido segundo a “reportagem” em 22/02/2008. Canalhice também tem limite, Sr. Alan Rodrigues!

Estes companheiros, Ruço e Caco, foram injustamente acusados, há anos atrás, pela morte de um pistoleiro do latifundiário e grileiro Galo Velho, que é um dos maiores do ramo da “grilagem” no país, reconhecido como tal oficialmente pelo próprio Estado.

Ruço, depois de mais de 4 anos preso injustamente, foi ABSOLVIDO em Júri Popular, junto com Joel. Caco, após permanecer por três meses preso, foi absurdamente condenado, junto com o Dr. Ermógenes, advogado que presta serviço a alguns acampamentos, pela LEI DE IMPRENSA! Esta condenação impediu Caco de se defender junto com Ruço e Joel. Caco tem advogado constituído, inclusive apoiado por manifestação, pública, em abaixo assinado, de mais de 500 personalidades jurídicas e intelectuais de pelo menos 21 estados brasileiros e países espalhados pelos 5 continentes.

Esse processo infame contra Caco foi movido justamente por um dos protagonistas da matéria da “Isto É”, o Major Enedy. O mesmo que foi denunciado por camponeses de receber estranhos “presentes” após ações de reintegração de posse. O mesmo que, como um pavão, uma estrela de televisão, foi de colete a prova de balas no julgamento de Ruço e Joel, como testemunha de acusação, e acabou desmoralizado ao reconhecer que seus comandados, “nas horas de folga”, prestavam serviços de “segurança” para o latifúndio na região! Mas talvez na busca pela verdade, verificar suas fontes não estava na pauta do Sr. Alan.

QUEM MERECE SER REPUDIADO, EXECRADO E PUNIDO PELA SOCIEDADE, INCLUSIVE PELA PRÓPRIA LEI DE IMPRENSA UTILIZADA CONTRA O MOVIMENTO CAMPONÊS, é a revista “Isto É”.

E mais: repudiamos também veementemente as declarações do Major Josenildo Jacinto, Comandante do Batalhão de Polícia Militar Ambiental. Este Major acusa a Liga de tudo o quanto pode e enxerga, porque a sua “polícia ambiental” é ODIADA PELA MASSA DE TODOS OS CAMPONESES DE RONDÔNIA! Esta polícia é odiada porque persegue camponeses e pequenos madeireiros, enquanto protege latifundiários e grandes madeireiros. Esta polícia é odiada porque protege os agentes do IBAMA, verdadeiros agentes do imperialismo na região, que chegam passando por cima de tudo e de todos. Até o próprio governador de Rondônia andou protestando contra o IBAMA na região.

Conclamamos todos os democratas de Rondônia a se unirem contra mais esse sórdido ataque contra a Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia, que também é um ataque covarde contra o movimento camponês combativo, que é um ataque a todos os camponeses pobres da região amazônica, que é um ataque aos heróicos camponeses de Rondônia, que vieram de todas as partes do Brasil para esta terra, onde resistem há décadas aos ataques do latifúndio e à cobiça devastadora dos imperialistas estrangeiros, principalmente norte-americanos.

Cobramos a punição deste repórter e desta revista, e conclamamos todo o movimento popular a fazer o mesmo, na justiça!

Àqueles que, assustados com as calúnias e o sensacionalismo barato desta matéria paga, silenciam sobre tantas mentiras, acabarão por se tornar cúmplices do banho de sangue pretendido pela reação e já planejado, que está em processo acelerado de ser deflagrado.

Que todos os democratas sinceros e amantes da verdade e da justiça, se unam!

A verdade vencerá a mentira!

Viva a luta combativa dos camponeses de Rondônia!

Terra para quem nela vive e trabalha!

Viva a luta heróica dos camponeses brasileiros da região amazônica. A Amazônia é nossa!

Viva a Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia!

Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia

quinta-feira, 27 de março de 2008

Os donos da passarela

Marcelo Salles

O carnaval do Rio de Janeiro continua monopolizado pela TV Globo, que é parceira de entidade controlada por bicheiros. Segundo CPI da Câmara dos Vereadores, contratos oneram os cofres públicos em R$ 100 milhões.

É domingo de carnaval, dia três de fevereiro. O relógio da Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro, marca 22h quando o puxador da São Clemente pega o microfone e se dirige ao público. Enquanto fazia uma saudação sobre a alegria de estar ali e coisas afins, a câmera da única emissora de televisão que transmitiu o evento captou uma imagem simplesmente impagável: um funcionário da TV Globo, devidamente identificado pela camiseta azul com a logomarca da empresa estampada, pega o puxador da Escola pelo braço e tenta posicioná-lo de frente para a câmera, o que só é conseguido após demorados e constrangedores segundos. Suam os dois: um pela emoção de falar para tanta gente e ter a oportunidade de abrir a maior festa popular do planeta; outro porque temia pelo emprego, já que os donos da Globo não gostariam de ter investido milhões de reais para ver uma saudação de abertura que não estivesse no melhor ângulo que suas câmeras pudessem captar.

Mas o funcionário em questão é exemplar. Além do puxador da São Clemente ele puxa pelo braço os homens da equipe de apoio, que trazem na camisa a inscrição “Controle” sob o logotipo da Prefeitura do Rio. Nada mais significativo: era a Globo dizendo onde, quando e como o poder público deveria se posicionar.

Dia seis de fevereiro, quarta-feira de cinzas. Novamente as câmeras da TV Globo voltam suas atenções para a Praça da Apoteose. Dessa vez, o foco principal é a mesa da Beija-Flor de Nilópolis, que lidera a competição até o final. Com o samba-enredo sobre Macapá, capital do Amapá, a escola da Baixada Fluminense arrancou o quinto título em seis anos – sendo que o anterior foi marcado por muitas suspeitas de corrupção, ameaças e chantagens contra os jurados. Aliás, falando nos jurados, é bom ressaltar que um deles, esse ano, foi Bruno Chateaubriand, que ganhou notoriedade ao declarar, em vídeo veiculado pela internet ano passado, que adora atirar ovos contra pobres da janela de sua cobertura na zona sul carioca.

Entretanto, mais interessante que a escolha de uma figura desta estirpe para o corpo de jurados do carnaval carioca, dançado e escrito por pobres, foi a narração da Globo. Custa a acreditar que os locutores conseguiram a proeza de não mencionar o nome de Aniz Abrahão David, o Anísio, que estava no centro da mesa da Escola de Nilópolis e ao lado do cantor e compositor Neguinho da Beija-Flor, este sim mencionado à exaustão pela Globo. Anísio não é um desconhecido para os locutores da Globo. E o foco da câmera, que insistia em focalizar seu rosto, contrastou com o silêncio daqueles que deveriam informar ao público o que lhes era apresentado pela imagem. Trata-se de um indivíduo que foi preso pela Operação Hurricane da Polícia Federal, no ano passado junto com Ailton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães, por envolvimento com caça-níqueis, jogo do bicho e as ramificações criminosas daí advindas, como geralmente tráfico de drogas e armas e grupos paramilitares. O bicheiro está solto por decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio Mello.

Ao lado dos bicheiros sapatearam os governadores do Rio e de São Paulo, Sérgio Cabral e José Serra, além do deputado federal Rodrigo Maia (DEM-RJ), filho do prefeito do Rio, e o ministro do Trabalho Carlos Lupi. Até o secretário de Segurança Pública do Rio, o policial federal José Mariano Beltrame esteve presente. O machão da Sapucaí. Autoridades, no dizer de certa imprensa, mas que não foram capazes de exercer suas funções públicas em meio a tanto esplendor, pois não houve notícia de flagrantes contra os artistas e empresários que faziam uso de substâncias ilícitas em seus camarotes privados. Não porque a cocaína seja coisa do demo ou coisa que o valha, mas porque esse hábito costuma ser violentamente reprimido quando é o pobre favelado quem o pratica.

Apoteose da criminalidade

Segundo o jornal O Globo (4 de fevereiro de 2008), a Liga Independente das Escolas de Samba, entidade que controla o carnaval carioca, é dirigida por criminosos. “Apesar da sucessão de processos na Justiça, os bicheiros parecem ter cada vez mais prestígio com os órgãos públicos. Comandada por contraventores, a Liesa receberá neste ano R$ 85 milhões em contratos com órgãos públicos e a iniciativa privada. A Liga recebe recursos dos governos federal, estadual e municipal, totalizando R$ 25 milhões. São R$ 12 milhões da União, através de patrocínios da Petrobrás e de empresas da qual a estatal é sócia; R$ 4 milhões de subsídios do governo estadual; e R$ 8,8 milhões da prefeitura. Segundo as investigações da PF para a Operação Hurricane, a Liga era usada para atender os interesses de uma quadrilha. Em 2006, além do Sambódromo, a Liga passou a administrar um patrimônio de R$ 100 milhões: a Cidade do Samba. Um filho de Capitão Guimarães foi nomeado prefeito”.

A reportagem do Globo é correta, até onde a tinta alcança. Se continuasse a investigação, o jornalão descobriria que existe uma CPI do Carnaval em andamento na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro, cujo relatório aponta:

— O contrato entre o Município e a contratada (Liesa) permite, ainda, que a mesma negocie, direta e livremente, o milionário direito de imagem com as emissoras de televisão. Nesta questão, causam estranheza dois fatos: o de a Liesa realizar e assinar um contrato válido por cinco anos com a REDE GLOBO (até 2009), quando o contrato firmado entre a Liga e a Prefeitura é realizado anualmente; e o da coincidência do término deste contrato entre a Liesa e a REDE GLOBO e o término do mandato da atual administração municipal, considerando que o contrato entre a Prefeitura e a contratada para o Carnaval de 2009 é firmado ainda em 2008.

Contextualizando

Compreensível. Depois de afirmar que a Liesa é “comandada por contraventores”, o jornal O Globo não poderia incluir em suas páginas que outra empresa das Organizações Globo mantém um contrato com a mesma Liesa. Nenhuma novidade. O escritor Roméro da Costa Machado (ver entrevista na edição X), que trabalhou durante 10 anos na Fundação Roberto Marinho na década de 90, já divulgara em artigo publicado no jornal eletrônico Fazendo Media (http://www.fazendomedia.com/globo40/romero15.htm) a proximidade do então vice-presidente da Globo, José Bonifácio de Oliveira, o Boni, com o submundo do crime:

— Fui chamado pelo Vice-Presidente José Bonifácio de Oliveira (o Boni) para assessorá-lo pessoalmente, com uma proposta super vantajosa, a qual aceitei sem pestanejar. Mas, em muito pouco tempo não tardou que eu descobrisse que nós dois (Eu e Boni) não teríamos muito sucesso juntos, isto porque ele mesmo, Boni, também era um dos que tinham notas enfiadas na Fundação, sem falar de sua porção "bandido" com ligações com o submundo do crime (bicheiros, gângsteres, etc.) onde o grande "capo" da criminalidade, Castor de Andrade, era simplesmente "irmãozinho" do Boni. Isso foi mais do que suficiente para se tornar um ponto intransponível e incontornável no nosso relacionamento. Tanto que nossas brigas tornaram-se tão inevitáveis até que chegamos ao insustentável, a ponto de dizermos coisas muito desagradáveis um ao outro, culminando com a minha saída voluntária da Globo, onde eu sequer fui buscar o que tinha direito, mas me dando o direito de contar tudo em livro ("Afundação Roberto Marinho", hoje na 12ª Edição). E não sem antes dizer ao Boni que cedo ou tarde os filhos do Roberto Marinho iriam se desfazer dele, como um pesado e incômodo fardo, e que ele só não seria demitido sumariamente naquele momento pelo tanto que ele tinha de ações, participações, e o quanto sabia e estava envolvido nas operações "sigilosas" da Rede Globo.

De lá pra cá, o monopólio da Globo sobre o carnaval carioca aprofundou-se. De modo que um mês antes dos desfiles a Cidade do Samba já se assemelhava a um set de filmagens. Funcionários vestidos com uniforme da Rede Globo estendiam cabos e mais cabos de fios, num emaranhado de fazer inveja a gravação de uma novela. O aparato contava também com três furgões para entradas ao vivo.

Qualquer outra TV que quiser entrar aqui tem que pedir autorização para a Globo, a administração (da Cidade do Samba) já manda direto perguntar para a Globo — relata um trabalhador da Cidade do Samba, onde são acomodados os carros alegóricos das escolas do grupo especial.

Em entrevista concedida à edição de fevereiro do jornal eletrônico Fazendo Media, o professor de Linguagem Impressa e Audiovisual da Faculdade Helio Alonso (FACHA) Ivo Lucchesi declarou a respeito dessa situação:

— Qualquer tipo de monopólio, principalmente em se tratando de meios de comunicação, é nefasto. A Rede Globo assim procede não apenas em relação ao Carnaval, igualmente o faz quanto à Copa do Mundo, extensivo a todos os profissionais que lá atuam. Portanto, as implicações dessas estratégias de controle, no melhor estilo do que conceituou Gilles Deleuze, são graves. Elas favorecem o congelamento de modelos, deixando a falsa sensação de que outros não há. Há tédio maior do que assistir ao desfile das Escolas de Samba com aqueles sucessivos cortes narrativos?

Enquanto a profusão de imagens se sobrepuser à indignação e a criatividade infinita do povo brasileiro não for utilizada para o enfrentamento, dificilmente livraremos nossas manifestações culturais — e o próprio país — daqueles poucos que lucram com a exploração de muitos.

Quadro — o carnaval deste ano também foi marcado pela perseguição da imprensa a determinadas escolas de samba e a proteção de outras. Como anotou o professor Ivo Lucchesi em 2005, havia uma nítida preferência da Globo por Beija-Flor, Grande Rio e Imperatriz Leopoldinense. Curiosamente, as três obtiveram respectivamente, os 1°, 3° e 4° lugares. Na época, a agremiação a integrar a novela Senhora do Destino conquistou, na ficção, a mesma colocação da escola de samba que, na realidade, desfilou. Este ano, as quatro primeiras colocadas foram Beija-Flor, Salgueiro, Grande Rio e Portela, sendo que esta última foi utilizada para a gravação de um capítulo da novela Duas Caras.

Por outro lado, a Mangueira foi perseguida não apenas pela polícia, mas também pelo noticiário. Além de amargar a décima posição, a escola teve que conviver antes, durante e depois do desfile com a presença constante de policiais e repórteres que tinham objetivos comuns: prejudicar o desempenho da escola com a desculpa de noticiar a vida de Francisco Paulo Testas Monteiro, preso por tráfico e libertado após cumprir mais de um terço da pena estabelecida: 43 anos de prisão. Vulgo Tuchinha saiu da prisão e voltou para a Mangueira, onde tentava restabelecer a vida compondo. Dedicou-se à música, venceu dois concorridos festivais e assumiu o nome artístico de Francisco do Pagode. Mas para o monopólio da imprensa ele será sempre um traficante, ao contrário dos criminosos de colarinho branco que pulam o carnaval sem se preocupar em serem importunados. Nem pela polícia, nem por repórteres.

terça-feira, 25 de março de 2008

Índios retomam latifúndio com a ajuda de mil camponeses


Hoje 400 índios acompanhados de mil famílias de camponeses pobres retornaram a área conhecida como Lagoa Azul, no quilômetro 17 da rodovia AM-010 (Manaus-Itacoatiara). Segundo a líder do povo Wai-wai, a índia Mirihu Wai de 47 anos, os índios — agora com a ajuda dos camponeses e em número bem maior — não vão desistir enquanto não tiverem a posse definitiva da propriedade, de onde eles já haviam sido expulsos pela PM em uma ação de reintegração de posse.

Na ocasião (11/3) a polícia militar agrediu com cacetadas, bombas e pontapés os índios que ocupavam a área. Até crianças e mulheres foram vítimas das agressões, umas delas grávida. A área improdutiva estava ocupada por camponeses e mais de 100 índios de diversas tribos

Tratores derrubaram as moradias construídas pelos índios e demais camponeses, que resistiram com paus, pedras e arco-e-flexas. Foram presas 17 pessoas, entre elas quatro índios.

Segundo o cacique do povo Sateré-Mawé, Luiz Sateré, a área pertence aos índios há séculos, porém nos últimos anos foi negociada por latifundiários da região e hoje pertence a Mitishu Inoue, um truculento engenheiro que em 25 de fevereiro, sem qualquer autorização da justiça, mandou tratores demolirem as mesmas moradias, que foram reconstruídas e agora derrubadas pela segunda vez. Também de acordo com o cacique Luiz Sateré, os PMs nem ao menos apresentaram o mandato de reintegração de posse e chutaram uma mulher grávida como uma bola.

Em apenas 15 dias, o latifundiário Inoue, conseguiu um mandato na justiça para que as famílias fossem expulsas das terras e suas casas fossem demolidas — o que ele já havia feito uma vez — comprovando a cumplicidade do Estado, corrupto e decadente, com os interesses do latifúndio.