No dia 13 de julho morreu Robert McNamara, antigo patrão da Ford, ex-secretário ianque da Defesa das administrações John Kennedy e Lyndon Johnson, ocupando o cargo de 1968 a 1981. Foi mentor da fracassada agressão imperialista ao Vietnã, onde mais de um milhão de pessoas foram assassinadas e quando tombaram quase 60 mil jovens estadunidenses instrumentalizados por ele e por outros da sua laia. Não se sabe com certeza se McNamara matou mais gente movendo as tropas imperialistas para lá para cá ou presidindo o Banco Mundial, onde deu impulso sem precedentes ao endividamento estrutural das semi-colônias, impondo aos povos pobres do mundo, com a ajuda das gerências oportunistas, as políticas subsequentes de arroxo, miséria e precarização. Não obstante, no fim de vida quis posar de defensor dos oprimidos, como tantos outros demagogos cujo bom-mocismo tardio não resiste a uma breve espiada nas respectivas biografias. Quando Ronald Reagan morreu, em 2004, o bravo uruguaio Mario Benedetti lhe rendeu uma “homenagem” póstuma, escrevendo um poema chamado “A morte de um canalha”. Canalha por canalha, reproduzimos o texto logo abaixo, dedicando-o a McNamara.
À morte de um canalha
Os canalhas vivem muito, mas um dia morrem
Para Ronald Reagan
Obituário com “hurras”
Vamos lá, vamos festejá-lo
estão todos convidados
os inocentes
as vítimas lesadas
os que gritam de noite
os que sonham de dia
os que sofrem no corpo
os que alojam fantasmas
os que pisam descalços
os que blasfemam e ardem
os pobres congelados
os que amam alguém
os que nunca se esquecem
vamos festejá-lo
estão todos convidados
o crápula morreu
acabou-se a alma negra
o ladrão
o porco
acabou-se para sempre
viva!
estão todos convidados
vamos festejá-lo
para não dizer
que a morte
apaga sempre tudo
tudo purifica
num dia qualquer
a morte
não apaga nada
ficam
sempre as cicatrizes
viva!
morreu o cretino
vamos festejá-lo
e não chorar como de hábito
que chorem os que são como ele
e que engulam suas lágrimas
foi-se embora o monstro magnata
acabou-se para sempre
vamos festejá-lo
sem ficar mornos
sem acreditar que este
é um morto qualquer
vamos festejá-lo
sem ficar frouxos
sem esquecer que este
é um morto de merda