terça-feira, 21 de julho de 2009

“Eles não disseram nada. Simplesmente atiraram”


Patrick Granja

Mais uma vez, pessoas da chamada "classe média" experimentaram uma pequenina parcela do tratamento dado diuturnamente pela PM do Rio à trabalhadores em bairros pobres da cidade.
Na noite do último sábado, o funcionário da Caixa Econômica Federal Paulo Mury Vieira, de 55 anos e sua esposa, a aposentada Elizabeth Madaber Profilo, de 54 anos, trafegavam em seu carro pela avenida Lobo Júnior, na Penha, quando foram repentinamente interceptados à tiros por uma viatura da PM. Quando Paulo parou o carro, percebeu que estava ferido e pediu ajuda aos policiais, que ainda xingaram o bancário e sua esposa e o culparam pelo incidente.


— Depois de atirar, eles abriram a porta do carro e meu marido disse que estava baleado. Eles chegaram gritando e xingando dizendo que era para a gente ter parado, eles não avisaram em nenhum momento que era para a gente parar. E isso não dá a eles o direito de sair atirando — afirmou Elizabeth.
Na chegada à 22ª DP, os policiais negaram culpa dizendo que reagiram a um disparo de supostos bandidos em outro veículo e ainda foram enquadrados como vítimas.
— Mantive a velocidade. Na Avenida Lobo Júnior, parei no sinal, e os policiais começaram a atirar. Foi bastante tiro. Então parei o carro e eu e minha esposa ficamos abaixados — contou Paulo na delegacia.
No dia seguinte, o monopólio dos meios de comunicação — como há um ano atrás, após o assassinato do menino João Roberto — publicou em suas linhas que os disparos criminosos foram consequência de “ações frustradas” da PM, omitindo o fato de que todos os dias e noites, como manda o protocolo, trabalhadores são exterminados nos bairros proletários da cidade por essa mesma polícia, preparada para agir como agiu, atirando primeiro e perguntando depois.
— Eles não disseram nada. Simplesmente atiraram­ — completou o bancário.
O episódio revela as obscuras intenções do Estado policial, desde o treinamento que dá à PM, até a proteção que impõe aos criminosos que produz em sua ante-sala. Os limites de sua violência — que antes se restringia às favelas — começam a se tornar indomáveis e sua face criminosa cada vez mais pública.
Há pouco mais de um ano, o menino João Roberto Soares, de 3 anos, foi morto pela PM na companhia de sua mão e seu irmão de nove meses em situação semelhante (Ver AND 45 – Estado policial mata primeiro e se justifica depois).

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