quarta-feira, 25 de março de 2009

Polícia promove nova onda de repressão no Morro da Providência

Patrick Granja

Mesmo depois da retirada das tropas do exército do morro da Providência em agosto de 2008, — responsáveis pelo sequestro e assassinato de três jovens moradores no mês anterior (Ver AND 44) — moradores da comunidade continuam sofrendo diariamente com a repressão policial, que desconhece limites e faz de trabalhadores e crianças constantes vitimas dos crimes do Estado.

Desde janeiro deste ano, policiais sob o comando do capitão Zuma da Polícia Militar, a frente do Gpae (Grupamento de Policiamento em Áreas Especiais), promovem uma onda de terror contra moradores da comunidade, já massacrados por meses de opressão depois que tropas do exército ocuparam a comunidade para dar suporte às obras do Projeto Cimento Social — uma obra eleitoreira e de fachada, criada por Marcelo Crivella.

Por lá, tornaram-se comuns todos os dias tiroteios, mortes, invasões de propriedades e diversos outros abusos cometidos por policiais.

Sidney Ferreira mora no morro da Providência desde que nasceu, ficou cego em 1989 quando tinha 13 anos de idade, vítima de um tiro disparado por policiais. Ele é músico profissional, casado e tem três filhas ainda crianças e conta que a sua situação, assim como a de todos os moradores é de total exílio e opressão. Crianças não podem ir à escola, trabalhadores não podem sair pela manhã para ir ao serviço e a partir da 20h, ninguém sai de casa.

Eles [Polícia Militar] mataram um garoto de dezenove anos. No domingo eu já estava arrumado para ir ao teatro quando tudo aconteceu. Acabou que ninguém pode sair de casa porque, além de tudo, eles ainda atiraram no transformador que atende a favela. Por fim ficou tudo sem luz. Há um mês teve um confronto na porta da minha casa e uma granada destruiu o meu portão, sem contar com o meu bar. Depois do tiroteio quando eu fui abrir para trabalhar tinha vários PMs dentro do bar. Furaram minha geladeira, roubaram biscoito, refresco. Deram um tiro que atravessou a parede da casa da minha mãe e ainda acertou na mesa de madeira. A bala ainda está em cima da mesa — conta indignado.

Sidney também conta que a estratégia dos policiais para não serem denunciados pelos moradores é deslocar efetivo de batalhões distantes para as operações, que não o batalhão local, referência para a população no sentido de denunciar abusos cometidos dentro da comunidade.

— O problema é que estão vindo policiais de outros batalhões. Do 18º, do 16º, policiais que não são daqui, que vêm de fora, só pra aterrorizar o povo, que vai fazer reclamação no 5º BPM, que é o batalhão da área, e não encontram os PMs que cometem abuso. Eles vêm aqui drogados, com estado emocional alterado, chamando todo mundo de maconheiro, colocando a mão nos bolsos, xingando e ainda tem o lance de invasão de propriedade, que não aconteceu só comigo.

Outros PMs já são conhecidos pela população, o que não diminui o medo de quem mora na comunidade, já que a maioria deles é conhecida por matar sem distinção, invadindo casas e agredindo moradores.

— Tem um PM conhecido como Nazista, que anda com uns PMs que já mataram muito aqui no morro, eles ficaram um tempo fora daqui e agora voltaram. Outro dia eles abordaram eu e meu irmão, xingando a gente e chamando meu irmão, que teve que deixar a bolsa do trabalho pra trás, pois senão eles atirariam no meu irmão com certeza. Eles vêm aqui totalmente alterados. O maior medo do povo aqui é o fato de a cada operação mudarem os policiais envolvidos, porque eles acabam não sabendo distinguir quem é quem e o risco de balearem um trabalhador que está saindo de casa fica grande — relata.

Como acontece em quase todos os bairros pobres do Rio de Janeiro, crianças deixam de estudar, homens e mulheres deixam de trabalhar e todos trancam-se dentro de suas casas temendo uma abordagem desse tipo, ou a possibilidade de entrarem na linha de tiro, tudo com o pretexto de combater o tráfico de drogas, mas que na verdade é um mecanismo de opressão contra o povo pobre, para aterrorizá-lo e arrefecer seu potencial de reação e organização, que especificamente na Providência, já demonstrou ser muito forte.

— Por causa disso ninguém mais vai pra rua por aqui. Criança fica sem ir pra escola, isso quando os professores não prendem as crianças no colégio e ligam pra casa pedindo pra gente ir buscar. Têm gente que sai a noite pra ir trabalhar e não pode. Outro dia eu tinha um show importante pra fazer e fiquei preso dentro de casa sem nem ter luz. Minha casa está cheia de buracos de bala. Quem tem que sair muito cedo, como meu irmão, também fica sem trabalhar ou chega atrasado. E nós sabemos que nada disso tem a ver com tráfico. É tudo pra deixar a gente com o rabo entre as pernas, quietos. Principalmente depois que a população daqui se organizou e colocou o exército pra correr, depois que eles fizeram aquelas barbaridades com a garotada do morro — conta Sidney, mostrando conhecer bem o atual quadro de intensa criminalização da pobreza, promovido pelo Estado.

— O povo aqui está oprimido contra a parede, sem o direito de viver sua vida, que já é pobre. Porque ninguém é poupado, todo mundo é esculachado. Sem contar com o fato de que se morre alguém, logicamente eles vão dizer que era traficante. Nas abordagens eles não deixam nem você falar. Já vêm agredindo verbalmente, segurando pelo pescoço. Até eu, mesmo cego, já tomei coronhada, já tive que deixar PM vasculhar a minha casa, com um monte de criança dentro­ — denuncia Sidney.

terça-feira, 24 de março de 2009

O trabalho doméstico só acabará com o fim do sistema de exploração

Centro de Estudos Populares - Bolívia

A pesar das tentativas por meios legais para aumentar os direitos das mulheres, nada muda a realidade de opressão vivida por milhões delas e que se desenvolve diante de nossos narizes. O trabalho doméstico das mulheres, tão útil ao sistema de exploração dos assalariados, só será eliminado pela ação e luta política das próprias mulheres junto com as classes populares, atuando unidas para transformar a sociedade.

A “nova” Constituição Política diz que “o Estado reconhece o valor econômico do trabalho do lar como fonte de riqueza e deverá ser quantificado nas contas públicas”. Segundo a propaganda do governo, nunca uma norma foi tão avançada em reconhecer o trabalho das mulheres dedicado à família.

No momento, porém, nem o governo nem ninguém sabe como estabelecer um valor para esse trabalho realizado geralmente pelas mulheres. As investigadoras em temas de gênero levantam que essa medida só será possível através de uma pesquisa de tempo gasto no lar, que em alguns países ajudou a estimar quanto, em minutos e horas, colaboram os membros da família nos afazeres domésticos.

Para que quantificar o trabalho nas tarefas domésticas? Alguns tecnocratas têm a ilusão de que algum dia o Estado possa pôr um preço no trabalho das mulheres e remunerá-las com um salário. Isto é, transformá-las em assalariadas.

Ainda que conseguissem algo, o máximo que poderiam alcançar seria que as mulheres continuariam trabalhando entre quatro paredes a troco de migalhas por sua contribuição para as contas públicas. Em outros termos, um tapinha nas costas para que aguentem com entusiasmo a opressão que o sistema lhes impõe.

O fardo, no entanto não vem só. Junto dele está uma soma de aspectos que vão desde a violência exercida por seus companheiros contra elas até a impossibilidade de participar em atividades políticas. Os funcionários atribuem esta situação à “desigualdade” e à “pobreza”, mas o correto é que a opressão sobre as mulheres constitui uma questão principal que aparece com a sociedade dividida em classes.

Por isso, a emancipação das mulheres só pode ocorrer com o desaparecimento do patriarcado, o fim da divisão sexual do trabalho e inclusive na eliminação total da divisão entre trabalho manual e intelectual, própria desta velha sociedade. Na atualidade, corresponde em acabar com o sistema de exploração vigente.

Em nosso país implica em combater uma das características da semifeudalidade que é a escravidão. Milhares de mulheres e meninas dos setores populares se empregam em casas de família para se prestar as tarefas domésticas. As jornadas de trabalho das “trabalhadoras do lar” pode passar de 12 horas diárias, por um salário menor que o mínimo oficial. Em muitos casos, inclusive não recebem remuneração, principalmente quando se trata de meninas ou mulheres provenientes do campo que querem de alguma forma se fixar na cidade. E até adotou formas que a legislação do velho Estado chama “comércio e tráfico de pessoas”.

As leis, tratados e convenções sobre os direitos das mulheres não mostram resultados porque a partir de uma visão liberal, tentam normalizar uma sociedade que possui fortes características semifeudais. Por isso os tecnocratas e funcionários do velho Estado estão empenhados em seu marco institucional e na negativa de identificar relações de classe neste problema.

A supressão da opressão das mulheres só pode vir da luta política e ideológica contra o patriarcado e seus fundamentos. Uma luta que demanda a participação das próprias mulheres, mas não só exclusivamente delas. Os setores populares tem a responsabilidade de lutar para transformar estas relações, e aos companheiros cabe a tarefa de renunciar aos privilégios que a velha sociedade lhes concede a respeito do trabalho doméstico.

Protesto antiimperialista do MFP no Rio

sexta-feira, 6 de março de 2009

Como a Polícia trata o povo: "O GOE atira é pra matar."

Líder de ocupação urbana no Rio é assassinado

A ocupação Serra do Sol, em Santa Cruz , amanheceu manchada de sangue, nessa quarta, 4 de março. O ferroviário aposentado José Carlos de Moraes, um dos líderes do movimento de ocupações da zona oeste do Rio, foi encontrado assassinado às 7:00 com três tiros na porta da sede da associação de moradores do local. Os demais integrantes do movimento suspeitam de crime político. Ninguém presenciou o crime.

Localizada na Av. Brasil, esquina com aterrado do Leme, em Santa Cruz , bairro da zona oeste do Rio de Janeiro, a ocupação Serra do Sol existe desde 22 de junho de 2008. A Polícia Militar há bastante tempo reprime os moradores sob a alegação de prestar segurança. Mais recentemente, a prefeitura do Rio de Janeiro intensificou as represálias ao movimento, segundo informações da comunidade.

José Carlos, de 67 anos, recebeu um tiro na cabeça e dois na barriga. O Pepé, como era mais conhecido, destacava-se como o principal articulador do movimento e tinha a função de verificar as áreas abandonadas e sem utilização social para a implementação de novas ocupações. O corpo está no Instituto Médico Legal e deve ser liberado ao meio-dia.

“Conversei com ele às 6:15 da manhã dessa quarta. Poucos minutos depois ele estava morto. A comunidade está chocada. Temos convicção que foi um crime político pois a arama tinha até silenciador, tanto que ninguém ouviu tiro” – afirma Emília da Silva, outra liderança do movimento que continua: “A irmã dele está esperando o corpo ser liberado para providenciar o enterro que deve acontecer no fim da tarde dessa quarta ou na manhã de quinta no cemitério de Campo Grande. Não vamos deixar um ataque desse passar despercebido. Pretendemos fazer uma manifestação solene no enterro do Pepé.”

Os responsáveis pela 36ª Delegacia de Polícia Civil e pela Polícia Militar, ambos de Santa Cruz, não foram encontrados pela equipe da Agência Petroleira de Notícias para prestar esclarecimentos sobre o caso.

Fonte: Agência Petroleira de Notícias

segunda-feira, 2 de março de 2009

Nota de solidariedade às famílias de São Joaquim do Monte (Pernambuco)

27 de fevereiro de 2009



No dia 19 de fevereiro, mais uma reintegração de posse foi executada pela “justiça” pernambucana. Desta vez, contra as famílias acampadas nos latifúndios Jabuticaba e Consulta, no município de São Joaquim do Monte, agreste de Pernambuco. Um efetivo de 300 policiais e pistoleiros do latifúndio retiraram as dezenas de famílias acampadas.



No sábado dia 21 de fevereiro as famílias organizadas pelo MST reocuparam as áreas. Pistoleiros do latifúndio tentaram expulsar novamente as famílias, armados com escopeta e revólveres foram ao acampamento ameaçar as famílias, mas as estas não se intimidaram e tiraram fotos dos pistoleiros exibindo suas armas.



Depois, os pistoleiros voltaram ao Acampamento para tomar a máquina fotográfica. Agrediram o companheiro Aluciano e chegaram a sacar uma arma contra ele. Foi aí que os camponeses reagiram em legítima defesa e mataram 4 dos 5 pistoleiros que invadiram o acampamento.

Somente depois do ocorrido a Polícia Militar chegou no local e ainda prendeu dois companheiros Aluciano Ferreira dos Santos (31 anos) e Paulo Cursino Alves (62 anos). Os dois companheiros estão sendo acusados de homicídio e se encontram detidos em Caruaru.



Este conflito é mais um resultado da violência do latifúndio e do fracasso da política de “reforma agrária” do governo Lula. As famílias de São Joaquim do Monte há mais de seis anos esperavam pela ação do Incra, mas nada foi feito.



Diante da reação justa dos camponeses à covardia do latifúndio, todo o monopólio de comunicação se levanta em ódio contra a luta pela terra e os movimentos camponeses. Todos os meses companheiros tombam na luta pela terra Brasil à fora. No Pará, 11 camponeses que participaram da tomada da fazenda Forkilha, em 2007, foram assassinados no período de 12 meses. Centenas de camponeses estão presos por lutarem pela terra, como é o caso de nosso companheiro Fábio Paraíso da Luz, preso há 8 meses e condenado a 4 anos por porte ilegal de armas. Contra estas injustiças ninguém se pronuncia, nenhum jornal as denuncia. Mas basta que o povo reaja para que o governador, o presidente do Supremo Tribunal e o presidente da Câmara se manifestem para atacar o povo em luta.



Nós da Liga dos Camponeses Pobre nos solidarizamos com as famílias de São Joaquim do Monte e com os companheiros Aluciano e Paulo, presos injustamente. Nos somamos à luta dos companheiros por um pedaço de terra para viver e trabalhar. E repudiamos todas as tentativas de criminalizar a luta camponesa.



A luta pela terra não é crime!

Abaixo a criminalização do movimento camponês!

Liberdade para os companheiros Aluciano e Paulo!

Terra para quem nela trabalha!

Viva a Recolução Agrária!

LCP - Nordeste