Após nove meses da ação policial que caçou e matou 12 pessoas (inclusive uma criança de 4 anos) na favela da Coréia, no Rio de Janeiro, novamente a polícia carioca empreendeu um massacre na mesma região. Desta vez foram 10 os assassinados, que o monopólio dos meios de comunicação insiste em tachar de bandidos. Aliás, a julgar pelo tratamento dispensado pela polícia a todos os moradores dos bairros populares, bandidos são todos os pobres, submetidos à humilhação diária para completar suas já difíceis condições de vida.
Chama atenção a cobertura “ao vivo” das emissoras de televisão, que está sempre bem posicionada para a transmissão das agressões policiais, uma vez que são avisadas e convocadas com antecedência. A torpe campanha para mostrar os pobres como criminosos se completa no dia seguinte, quando as crônicas se entregam a narrativas épicas de como os “heróicos” e “abnegados” policiais enfrentaram “selvagens” e “cruéis” bandidos. Não dizem que, por exemplo, no caso de Paraisópolis, há três meses a polícia realiza uma tal Operação Saturação, que consiste no cerco e ocupação da favela por centenas de policiais que se dedicavam a humilhar e agredir a população pobre encravada ao lado de um bairro “nobre” de São Paulo. Depoimentos de moradores de Paraisópolis dão conta de roubos praticados por policiais, agressões constantes e desaparecimentos. Daí que a justa ira da população no dia 2 não pode ser atribuída à morte de um bandido pela polícia, como querem passar por verdade o monopólio dos meios de comunicação.
O jornalista Jaime Amparo Alves, em seu blog, inicia um post assim:
Há um ditado africano direto e certo: enquanto os leões não tiverem os seus próprios contadores de história, os caçadores serão sempre os vencedores.
A cobertura do Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo - os dois jornalões da paulicéia elite desvairada – na repressão policial da manifestação dos moradores da favela de Paraisópolis na zona sul de Sampa, faz o ditado africano cair como uma luva aqui. Quem perder tempo lendo Folha e Estado verá que as notícias são contadas do ponto de vista oficial. As fotos, tomadas da posição geográfica da polícia dão a dimensão de que ponto de vista falam os jornalistas de ambos jornais. Nem uma linha, nem que seja para disfarçar, questionando a polícia sobre a morte de um morador dias antes, preso com um carro roubado em uma operação policial.
O que dizer então da Rede Globo e outras TVs. Em outro texto encontrado neste link, a autora Paula Góes publica o comentário de um leitor do blog de Paulo Henrique Amorim:
Um fato curioso: antes do choque chegar, um grupo de uns 10 policiais com alguns escudos se posicionaram em linha para avançar numa rua com os vândalos a uma boa distância bem a frente, e ali ficaram parados, e até o comentarista Percival estranhou aquela atitude da polícia, e como era horário do SPTV da Globo, coloquei a imagem da Globo ao lado da Record que transmitia o chamado “conflito” em tempo integral. Quando o SPTV entrou ao vivo, os policiais avançaram, e quando a imagem do SPTV foi cortada, os policiais recuaram correndo.
É essa a cobertura dada pelo monopólio da imprensa que tenta encobrir todos os crimes cometidos pelo Estado, o verdadeiro responsável pelas mazelas de nosso povo e que vem aprofundando a política fascista de segregação e extermínio das populações pobres. E é contra isso que se insurgem as massas, que cada vez mais se convencem de que a rebelião se justifica, uma vez que esse Estado se configura como seu verdadeiro inimigo.
Um comentário:
Uma boa entrevista sobre
o tema:
http://www.franciscodandao.com/entrevistas/entre_014.html
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