quinta-feira, 19 de novembro de 2009

A arte de Latuff a serviço do povo

Latuff escreve e declama em vídeo

TRIBUTO AO CAMPONÊS
Carlos Latuff

Surge na paisagem
um camponês de passagem
fitando a fazenda sem fim.

Em seu peito não há paz
É sua convicção que o faz
caminhar decidido assim.

Pra que você entenda
o ódio dele pela fazenda
só sendo pobre enfim.

Solitário, o lavrador avança.
Um cavaleiro contra o castelo
tendo a foice como lança.

Os pistoleiros acham graça
enquanto deslizam cartuchos
pros seus rifles de caça.

Mas o camponês não estava sozinho.
Do horizonte que parecia deserto,
mais pessoas a caminho.

O sorriso do capataz,
agora então se desfaz.

O ímpeto do povo
que derrubou grades e portões,
fez cair também
os jagunços valentões.

Chega a polícia e seus pelotões
cujas fardas camufladas
só não camuflam as intenções.

Mas o camponês que enfrenta
malária e onça parda,
não tem medo de bicho
nem de jagunço de farda.

A terra que antes fôra
prostituída pelo fazendeiro,
volta agora as mãos do povo
seu destino verdadeiro.

Dela agora brotam lares
alimentos e esperança.
Porque não é questão de esperar,
quem luta é quem sempre alcança.



10 comentários:

Marcelo SP disse...

A Vergonha Partiu Para Mim Tambem Latuf.Parabens pela coragem!

Como quase tudo numa sociedade de classes baseada na exploração do trabalho, mais ainda em se tratando de semicolônia, guarda-se uma grande distância entre o que se diz ou escreve e o que se pratica. A nossa "Constituição Cidadã" torna-se letra morta quando, para ficar apenas num pequeno exemplo, o executivo indica os membros do Supremo Tribunal Federal e legisla através de "medidas provisórias".
Estes são, pois, os sistemas de Estado e de governo desta velha democracia dominada pela burguesia e pelo latifúndio a serviço do imperialismo. Daí resulta, pois, sob os adornos de um processo eleitoral corrupto e farsante, toda iniquidade, toda exploração e toda opressão que esmagam nosso povo nas formas mais variadas. É o arrocho salarial, o desemprego, as péssimas condições de vida expressas na precariedade de sua alimentação, de sua moradia, de sua saúde e de sua educação. É o operário sem direitos, o camponês sem a terra, a juventude sem futuro, a mulher trabalhadora discriminada, explorada e violentada. São os pequenos produtores do campo e da cidade esmagados pelos monopólios. São a brutalidade e violência policiais, o genocídio dos pobres pelo Estado e um mar sem fim de indignidades e de injustiças.Venceremos!!!

Renata Silveira disse...

Eu Acredito Latuf, que uma nova política onde o sistema de Estado não seja o poder dominante da grande burguesia e dos latifundiários e sim o poder dominante do conjunto das classes trabalhadoras exploradas e oprimidas. Ou seja, a classe operária, os camponeses pobres, os estudantes e intelectuais honestos, os pequenos e médios proprietários rurais, industriais e dos setores do comércio e dos serviços. Neste Estado que não explorado e exploradores [Lucro maximo dimdim], o Sistema de Governo será organizado de modo a substituir o atual sistema "representativo" com a sinistra figura do político profissional, por um sistema que possa expressar o Poder Popular, através das Assembléias do Poder Popular. Estas por sua vez serão organizadas desde as zonas rurais, o bairro, o distrito, o município, onde o cidadão exerça o poder político através da democracia direta.
Viva A Luta dos Palistinos da Amazonia em tudo Brasil!!!

Anonymous disse...

muito bom esse poema do Latuff

Fernando disse...

Já há bastante tempo admiro o trabalho do Latuff como chargista. Mas agora vejo que além de cartunista é também um ótimo poeta. valeu...

se todo artista usasse de sua arte para servir ao povo assim, o Brasil estaria muito (muitíssimo) melhor no quesito arte.

escolapopularondonia@yahoo.com.br disse...

A Escola Popular em Rondônia lançou a Campanha de Alfabetização de Jovens e adultos. 4 turmas já estão em funcionamento nas Áreas Revolucionárias Raio do Sol e Canaã, áreas que o cartunista Latuff visitou em outubro último. Ele causou muito boa impressão aos camponeses por onde ele passou, por seu talento artístico, por sua simplicidade, por seu ódio manifesto contra o latifúndio e seus agentes e por sua identidade com a luta camponesa combativa.

Desde sua visita aqui nós da Escola Popular temos divulgado os trabalhos do Latuff. Sua poesia “Tributo ao Camponês” foi usada em aulas de português da turma da 2ª fase (dos que já sabem ler) da Escola Popular da Área Raio do Sol. A professora leu a poesia, depois foi feita leitura coletiva e debate. Os alunos responderam questões de interpretação de texto e trabalharam lições de ortografia. Por último, tiveram como atividade de produção de texto escrever uma carta ao Latuff, se não quisessem, não mandaríamos para ele, o objetivo principal era exercitar a escrita. Mas todos quiseram que enviássemos as cartas ao Latuff. E para nossa surpresa, um dos alunos, o Júnior fez uma poesia!

Enviamos para vocês a poesia “Tributo ao artista” e a carta da D. Nena.

Queríamos compartilhar um pouco com vocês do reconhecimento e honra que os camponeses sentem por pessoas honestas que se solidarizam com sua causa, como tem sido o Latuff.

Tributo ao artista
(Júnior)

Surge lá em casa
um carioca de farda.

Em seu peito há paz
é sua convicção que o faz
desenhar com tanta perfeição.

O artista avança
tendo o lápis e papel
como lança.

Sua imaginação
vai além do que alcança
do seu olhar não escapa nada
nem a borboleta azulada.

O sorriso que aqui já existia,
Agora que você veio:
“Só alegria”.

Disso eu posso afirmar:
“do Latuff ninguém esquecerá”.



Carta D. Nena:
Jaru, 20/11/2009

Prezado Latuff,

Fiquei muito contente da sua vinda aqui no assentamento Raio do Sol.
Você veio de tão longe para conhecer-nos.
Já estamos com muita saudade.
Queremos que volte mais vezes para comer uma galinha gorda com nós aqui no Raio do Sol e trazer boas novas para nós.
Só que aqui está chovendo muito.
Já estamos fazendo nossa plantação. Estamos plantando milho, arroz, cana, batata doce, abacaxi, ramas de mandioca e mais outras plantas.
Vou terminar por aqui até outro dia, se Deus quiser.
Quem fez esta carta: Josefina Cosme dos Santos (D. Nena)



Saudações classistas,
Escola Popular Rondônia

Anonymous disse...

Camponeses tomam a terra e desenvolvem novas relações de produção em todo Brasil.

Tomando como principal referência as forças produtivas no campo e não o aspecto domiciliar, conclui que é falso o subterfúgio que por tantos anos influenciou o movimento revolucionário brasileiro a subestimar a importância da luta camponesa. Dos mais de 5 mil municípios brasileiros, a imensa maioria tem como base de sustentação financeira a produção rural.
Um dos motivos principais do golpe contra-revolucionário de 1964 foi a ameaça representada pela organização camponesa que crescia com as Ligas Camponesas num movimento cada vez mais radicalizado, sob grande influência do foquismo cubano.
Em seguida, a incorporação das terras no Brasil revela um surpreendente crescimento de concentração fundiária, inclusive em mãos de estrangeiros. Nos nossos dias, dos 380 milhões de hectares de terras tituladas como propriedade privada, metade pertence a apenas 1% dos proprietários, ao lado do contingente de mais de 5 milhões de camponeses sem terra alguma para cultivar.
Na década de 70, o movimento camponês retomou a radicalização das lutas, marcadas pelos acontecimentos do Araguaia e respondida pelo Estado burguês-latifundiário com uma repressão sem precedentes, acompanhada de um processo paralelo que se faz passar por progressista, dirigido pelo clero, que já detinha o controle das federações camponesas.
Em 1980, surge o MST, promovido pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), como um movimento radical, cuja direção é rapidamente domesticada pelo INCRA, que o transforma numa causa de perene negociação de reforma agrária nos marcos da estatalidade burocrática-latifundiária e semicolonial.
O movimento camponês nos últimos anos tem feito brotar tendências independentes decididas a tomar a terra, extinguir o latifúndio, desenvolver novas relações de produção, libertar as forças produtivas com programas coletivos de produção, com escolas multidisciplinares e a instituir sua própria administração e com uma nova Cultura para não depender deste Estado podre e corrupto.

Anonymous disse...

COMPANHEIROS,
PARA BEM ENTENDER A QUESTÃO AGRÁRIA RECOMENDO A LEITURA DE "O 18 BRUMÁRIO" DE KARL MARX perdoem pela maiúscula mas tive a idéia de representar um megafone.
assim por este correio popular agradeço ao soneto do companheiro Latuff.
mas, em São Paulo, milhões de nordestinosd que foram expulsos de sua terra mas que mantém acesa a chama de um dia voltar clamam por uma revolução agrária para fugirem do cativeiro paulista rumo a terra prometida. assim, apoiamos a revolução agrária a partir da maior cidade do país que está sendo tragada pelo processo de decadência do capitalismo.
assim, os camaradas que vivem pelas ruas vendendo de tudo eis que o emprego desapareceu se lembram que quando moravam na roça não precisavam se humilhar para sobreviver desde que tivessem a terra para trabalhar porque o povo brasileiro não se deixa abater apesar da ganância das nações do hemisfério norte.
sendo assim, os camponeses pobres não estão sozinho porque são apoiados pelos seus semelhantes nas grandes cidades que perderam o emprego com o fim da sociedade industrial e que precisam voltar pára a terra prometida.
enfim parabéns latuff pelos versos em decassílabo sendo que a tônica é
VIVA A REVOLUÇÃO AGRÁRIA!

AMARO BEZERRA DE SERRITA

Salamander ?? disse...

This is very good.

Luciane Barbosa disse...

“do Latuff ninguém esquecerá” (Tributo ao artista
(Júnior - Escola Popular Rondônia)

Destaco e repito:

“do Latuff ninguém esquecerá”

Axé

Anonymous disse...

Prezado
Latuff
o seu texto veio direto para o meu coração como uma flecha certeira e me deixou comovido.
obrigado
aproveito para dizer que a falta de remorso e de sentimento de culpa de mercadores da pátria somente será corrigida por um movimento objetivo de ocupar as assembléias e prédios públicos. ah. aproveito para apoiar a ocupação da câmara do DF quem sabe seja apenas o começo de uma série de tomadas de prédios públicos.

jabá casanova