quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Da chibata ao caveirão*


  Há 100 anos, no dia 22 de novembro de 1910, marinheiros rebelaram-se contra os castigos físicos que sofriam. Dentre os líderes da revolta estava João Cândido, filho de ex-escravos, estrato social da maioria dos marinheiros. Os poucos brancos originavam-se do nordeste, migrantes da seca de 1877. A oficialidade, nos camarotes, parecia inglesa.
Os castigos físicos na Marinha haviam sido abolidos pelo Decreto nº 03 da República, de 1889, mas foram reintroduzidos pelo Decreto 328 de 1890 e somente revogados definitivamente pelo Decreto 2280 de 1910, que também concedeu anistia, condição imposta pelos revoltosos para cessar o movimento.
Em 2008 o presidente Lula sancionou a Lei 11756 reanistiando os revoltosos, mas vetou o parágrafo que possibilitava o pagamento de pensão aos descendentes dos heróis populares, único dispositivo que poderia produzir efeito real.
A Revolta da Chibata é um dos mais relevantes movimentos sociais da história do Brasil. Marca o momento no qual os pobres se organizaram e disseram não à insensibilidade e brutalidade da classe dominante. No momento de sua ocorrência a Zona Sul da Cidade do Rio de Janeiro havia sido preparada para a elite e o Centro remodelado para seus negócios e divertimentos, deixando os subúrbios e os morros para os pobres. Para a abertura da Avenida Central, hoje Rio Branco, foram removidos cerca de 350 cortiços, e banidas as famílias que neles habitavam.
Hoje, jovens pobres e negros já não sofrem açoites legais. Mas, morrem em decorrência de similar política que reprepara, com suas UPPs, a Zona Sul para a elite. Já não é o açoite que mata. É o caveirão, a política de extermínio e a indiferença dos que se acreditam seguros em suas zonas protegidas, tal como a oficialidade em seus camarotes.

João Batista Damasceno
Cientista político e juiz de Direito membro da Associação Juízes para a Democracia
*Artigo publicado no jornal O Dia de 24 de novembro de 2010

2 comentários:

Anonymous disse...

quando v tiverem uma opinião, ou puderem publicar a opinião de alguém sobre a situação do Rio, iria ajudar muita gente a pensar.

Vemos guerra, trafico varejista armado, tanques de guerra.

Isso aí é um furúnculo do Estado. Ele provoca a miséria, alimenta aviolência entre o povo, cria os mecanismos para armar todos, e generaliza o terror e o medo.

O interessante é que só morre gente de um lado, e chamam os traficantes de bandidos assassinos.

abraços e cumprimentos pelo trabalho

Anonymous disse...

Por quê de fato são bandidos e assassinos,traficante não merece defesa e sim repulsa,pois o Tráfico é uma empresa Capitalista,e a maioria desses Traficantes entram no crime por dinheiro fácil e não necessidade,tráfico não é Revolucionário coisa nenhuma,pelo contrário são enfermeiros do Capitalismo,pois a droga é coisa do Sistema,não defendo a militarização de bairros pobres,mas tem de ser criadas condições para que os Jovens pobres não virem ladrões ou traficantes,e não ficar repetindo clichês antigos e sem fundamento pros dias de hoje,os moradores que tem de se encarregar desses traficantes.
Quem defende traficante ou é equívocado ou é da laia deles.