segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Mês de revoltas populares em Belém - PA

Patrick Granja


Desde o início de agosto, inúmeros protestos foram deflagrados por moradores de bairros pobres de Belém em resposta aos crimes do Estado contra o povo.

COHAB Eduardo Angelim
No dia 6 de agosto, moradores do conjunto habitacional Eduardo Angelim, em Belém – PA, bloquearam uma das pistas da Avenida Augusto Montenegro para denunciar o precário sistema de abastecimento de água. Os moradores estavam há dez dias sem água e relataram que os reparos feitos pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Belém (Saaeb) não duram mais que dois meses.
O Saaeb vem aqui conserta e a água volta. Cerca de dois meses depois a falta de água volta, fazemos protestos e eles retornam para ajeitar. Esse círculo vicioso nunca acaba — relatou o técnico em informática Jefferson Silva, morador conjunto.
A PM tentou impedir o protesto, mas os moradores ergueram uma barricada de pneus em chamas e resistiram combativamente.

Conjunto Satélite
Três dias depois, moradores do Conjunto Satélite, também em Belém, bloquearam a mesma avenida depois que o líder comunitário Airton Pena foi baleado por pistoleiros que, segundo denúncias dos moradores, foram contratados pelo dono do terreno onde está o Conjunto.
Policiais Militares reprimiram o protesto e atiraram balas de borracha e bombas contra os cerca de 350 manifestantes, que responderam com fogos de artifício, paus e pedras.
Pouco mais de uma semana após o protesto, no dia 18 de agosto, aconteceu o que os moradores do Conjunto Satélite temiam: bombeiros, tropa de choque da polícia e equipes da prefeitura de Belém voltaram ao local escoltando dois oficiais de justiça com mandados de reintegração de posse para expulsão das famílias que vivem no local.
Os moradores construíram barricadas nas entradas do Conjunto Satélite e resistiram como puderam contra os tratores.
Duzentos policiais escoltaram os 300 operários encarregados de derrubar as casas do Conjunto.
Revoltados, alguns moradores queimaram suas casas, criando uma espessa nuvem de fumaça e impedindo que os demolidores continuassem naquele dia o despejo criminoso.
   
Vila Branca
 No dia 22 de agosto, Um garoto de 17 anos foi preso arbitrariamente pela polícia acusado de participar de um roubo no bairro pobre Vila Branca, em Belém. O menino foi apontado pela vítima do assalto e preso em seguida. Revoltados, os moradores bloquearam a Avenida Pedro Álvares Cabral para protestar.
Esse menino nunca fez nada contra ninguém. Ele é muito calmo. Deve ter sido confundido. Ele estuda e trabalha. O pessoal da Vila Branca se revoltou com o jeito que a Rotam abordou o garoto. Gritando, xingando, batendo nele — disse a moradora Jacira Barbosa, de 59 anos.
Mesmo após o protesto, a polícia e a secretaria de segurança do Pará não reviram a prisão do garoto e não pretendem fazer nenhum tipo de investigação para saber se ele realmente participou do suposto assalto.
O jovem permanece preso na unidade do Espaço Recomeço (Erec), em Belém, onde segundo a assessoria de imprensa da polícia militar, ele permanecerá por, pelo menos, 45 dias.

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