terça-feira, 12 de abril de 2011

A política de volta às telas

Ana Lúcia Nunes


Desde o final dos anos 70, a política foi lançada ao esquecimento na produção artística. A invasão cultural promovida por Hollywood e por toda a indústria do entretenimento, com seus enlatados, trouxe aos nossos lares uma arte completamente esvaziada de temas sociais, de realismo, de qualquer análise, interpretação ou representação profunda da sociedade.


Durante os últimos trinta anos, falar de política se tornou “démodé”. Fazer arte política, uma heresia. Mas, atualmente, muitos artistas – alguns ainda remanescentes da efervescência artístico-cultural que a América Latina viveu nos anos 60 e 70, outros jovens cineastas que retomam o que houve de progressista e revolucionário no cinema – têm retomado a política como tema, processo e ideologia de um fazer cinematográfico.

Dentro desta vertente, é possível citar algumas boas obras que valem a pena ser vistas. A primeira e mais surpreendente é o documentário francês Qu'ils reposent en révolte (des figures des guerres), em português “Quem é responsável pela revolta”, do diretor Sylvain George.

A obra é resultado de três anos de trabalho e convivência do diretor em Calais, na fronteira entre França e Inglaterra. Um lugar que se tornou refúgio e porta de entrada de milhares de imigrantes, vindos, principalmente da África. O filme, numa abordagem simples e direta, mostra as estratégias de sobrevivências dos imigrantes, suas condições de vida e a repressão efetuada pelo governo francês. A obra tem cenas muito fortes, como a que mostra a estratégia dos imigrantes para driblar a polícia europeia queimado suas próprias mãos, suas digitais, sua identidade. O filme é daqueles que ao final te deixam com o grito entalado na garganta e nos mostram que a sociedade não é tão perfeita como a TV tenta fazer crer.

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