segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Greve na Unifesp: Por melhores condições de ensino*

Comitê de apoio a AND em São Paulo


Em setembro de 2010, estudantes da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) campus Baixada Santista (Cidade de Santos, litoral de São Paulo) iniciou uma campanha pela permanência estudantil e no dia 30 do mesmo mês realizaram um ato, entregando um manifesto de reivindicações à direção.

Como já era de se esperar a resposta não foi satisfatória e no dia 06 de outubro em assembleia, os estudantes deflagraram greve tendo como principais reivindicações:

- Auxilio moradia, transporte e alimentação;

- Restaurante Universitário;

- Piscina, laboratórios e materiais adequados para a realização das aulas e pesquisas;

- Aumento do espaço físico da biblioteca;

- Mais computadores funcionando com os programas necessários para realização dos estudos e pesquisas;

Os cursos oferecidos nessa unidade são de Psicologia, Terapia ocupacional, Fisioterapia, Educação Física e Serviço Social e há 5 anos os estudantes estão instalados num local provisório divididos em 2 unidades distantes.

No dia 21 do mesmo mês, houve uma assembleia no campus Guarulhos (região metropolitana de São Paulo), na qual os estudantes também decidiram pela greve. A pauta tinha como principais reivindicações:

- Construção imediata do prédio definitivo do campus;

- Diminuição do preço da refeição do bandejão. Fim da terceirização do restaurante universitário;

- Implantação imediata da linha de ônibus metrô Itaquera (SP) ao Bairro dos Pimentas (região onde se localiza o campus) ;

- Construção de moradia estudantil próxima a universidade;

- Garantia da conclusão da graduação (não ser jubilado antes dos 8 anos de curso);

- Ampliação do espaço da biblioteca para receber os 20 mil livros arrecadados na feira do livro realizada este ano;

Com muita disposição de luta, ambos os campi seguiram resistindo e organizando um movimento cada vez maior: no dia 22 de outubro houve participação na reunião do CONSU (Conselho Universitário), seguida de uma caminhada de protesto até o novo prédio da reitoria, além das várias atividades de greve como grupos de discussões, aulas públicas e assembleias, sendo uma delas unificada com as demais unidades: Diadema, São Paulo e São José dos Campos. Moções de apoio dos trabalhadores, professores e outras entidades foram enviadas.

No dia 09 de novembro após a mesma atividade todos seguiram em ato até a reitoria para entregar ao reitor Walter Manna Albertoni uma pauta unificada.

A manifestação estudantil demonstrou que somente com a radicalização pode se conquistar qualquer reivindicação, já que quando chegaram em frente ao prédio tentaram de todas as formas serem recebidos pelo reitor com a palavra de ordem: “Desce Albertoni, desce!”. Ele resistiu em responder e todos insistiram com o protesto gritando: “Albertoni, pode descer, tem uma árvore esperando por você!” (fazendo alusão a sua declaração: “... O mais importante em uma universidade é professor bom e alunos bem selecionados. Com isso, pode se ter aula até embaixo de uma árvore” (O Estado de São Paulo 22/03/2010). Ao respondê-los disse que a porta estava aberta, porém o portão estava repleto de seguranças e policiais prontos para recebê-los com empurrões e sprays de pimenta.

Após muita resistência, o reitor finalmente atendeu ao chamado, comprometendo-se em responder a carta no prazo de sete dias, não escondendo sua postura antidemocrática dizendo “que aquilo era uma palhaçada!”.

A carta foi respondida, porém sem nenhuma garantia de cumprimento das reivindicações estudantis.

Os campi Baixada Santista e Guarulhos mantiveram sua greve por mais de 40 dias, sendo que a primeira unidade contou com a adesão dos professores no decorrer da mobilização.

Os problemas das condições de ensino da Unifesp são consequência do famigerado projeto REUNI (Reestruturação e Expansão das Universidades Federais), parte do plano de contrarreforma universitária do Banco Mundial, executado pelo gerente Luiz Inácio ao longo de seus dois mandatos.

O projeto foi decretado às universidades federais brasileiras em 2007 e desde então todas elas vêm sofrendo seus desdobramentos. Nos últimos 4 anos, a Unifesp, por exemplo, multiplicou seis vezes o seu número de matrículas. Eram 1.150 antes do REUNI e hoje passam dos 7 mil, porém sem o aumento de verba correspondente, gerando a falta de assistência estudantil, a precariedade das instalações, o aumento do número de alunos por professor.

Atualmente, ela conta com 5 campi, além de Osasco (região metropolitana de São Paulo), que ainda não iniciou suas aulas, sendo previstas para 2011 no prédio da FAC-FITO (Faculdade de Ciências da Fundação Instituto Tecnológico de Osasco), mantido por uma fundação pública de administração indireta da prefeitura de Osasco (PT) e do campus de extensão universitária no município de Embu das Artes (também região metropolitana), inaugurado em parceria com sua prefeitura em setembro de 2010.

A expansão da universidade vem sendo feita dessa forma, em parceria com diversas prefeituras para concretizar as metas exigidas pelo REUNI, pois como o projeto não prevê o aumento de verbas de acordo com as novas necessidades, as instituições saem em busca de “doações” e “parcerias”, sejam elas públicas ou privadas para complementarem seus escassos recursos.

Essa é a tão aclamada “expansão universitária” que o governo Lula/Banco Mundial não se cansa de propagandear. O caso da Unifesp é um dentre outros exemplos que demonstram quanto custa o programa demagógico de “expansão” imposto às universidades federais brasileiras.

*Nota da redação de AND: A edição de dezembro, nº 72, de A Nova Democracia trouxe uma matéria sobre a greve da Unifesp, na qual várias informações encontravam-se incorretas ou confusas. Recebemos algumas críticas de estudantes da Unifesp e de nosso Comitê de apoio em São Paulo, que havia preparado um texto base que não foi corretamente utilizado na edição da matéria. O presente texto foi preparado pelo comitê, corrigindo as informações e atualizando alguns dados sobre o movimento.

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