terça-feira, 9 de agosto de 2011

9 de agosto: 16 anos da resistência de Corumbiara

Artigo retirado do jornal A Nova Democracia nº 80 (agosto de 2011)

Os legítimos donos da fazenda Santa Elina

O chamado “massacre de Corumbiara”, como ficou conhecido o ataque de policiais e pistoleiros no dia 9 de agosto de 1995 aos camponeses pobres acampados na fazenda Santa Elina, no município de Corumbiara, Rondônia, será sempre lembrado pelas massas camponesas e pelos que lutam pelo fim do latifúndio no Brasil. A heroica resistência empreendida pelas famílias camponesas foi o que impediu que um verdadeiro banho de sangue fosse levado a cabo por covardes carrascos encapuzados, torturadores vis, assassinos a soldo do latifúndio.

Os remanescentes daquela luta nunca deixaram de lutar, organizaram-se no Comitê de Defesa das Vítimas de Corumbiara – Codevise, mantiveram-se mobilizados, denunciaram a matança e a tortura, denunciaram os assassinos e mandantes do massacre. Sem se iludirem, os filhos e continuadores da luta de Corumbiara cobraram as promessas das ditas “autoridades”, como a que Luiz Inácio, o operário-padrão do FMI, então candidato, fez diante das famílias pouco depois da batalha, em 1995. Promessas de terra e justiça. Só promessas. Nenhuma foi cumprida.

Essas famílias camponesas, organizadas pelo Codevise, persistiram na luta pela conquista da terra, enfrentaram e denunciaram a pistolagem até que, em meados do ano passado, retomaram por mais uma vez parte da fazenda Santa Elina, cortaram os lotes, iniciaram a produção, resistem plantando e colhendo seu sustento.

Recentemente foi noticiado que o Incra teria concluído o processo de aquisição da fazenda Santa Elina “para fins de reforma agrária”, e que “em 90 dias” a área de 14.800 hectares seria transformada no mais novo projeto de assentamento do Estado.

O Incra e a dita “reforma agrária” do velho Estado não fizeram sequer uma menção à história de resistência e luta das famílias e a sua legítima organização, o Codevise. Não mencionaram que as famílias, devido à morosidade e descaso dos gerenciamentos de turno, cansadas de esperar e de promessas, já haviam tomado a terra e cortado por conta própria, que já produziam nela com o apoio da Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental. A própria desapropriação da fazenda Santa Elina, como afirmam os camponeses, se deve principalmente à persistência das vítimas e seus apoiadores, que lutaram sem cessar durante 16 anos.

O Codevise e as famílias camponesas denunciam: “esta é a forma encontrada pelo Incra de Rondônia e pela Fetagro [Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Rondônia] para deturpar a lutados camponeses”.

Em seu último manifesto, os camponeses de Santa Elina reafirmam: “estamos dispostos a lutar para que todos os esforços das vítimas de Santa Elina não sejam usados mais uma vez para fins oportunistas e eleitoreiros de quem quer que seja. As famílias que há mais de um ano tomaram legitimamente posse de suas terras exigem o reconhecimento de seu direito de ter terra para trabalhar e sustentar suas famílias, exigem que o corte realizado pelos camponeses seja respeitado e estão dispostas a permanecer nessas terras custe o que custar.

Convocamos a todos trabalhadores, professores, estudantes, artistas e intelectuais honestos a manifestar seu apoio enviando notas de repudio aos seguintes endereços:

Superintendente do Incra de Rondônia: .lima@pvo.incra.gov.brEste endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo.

Fetagro: @pcnet.com.br

Ouvidoria Agrária: .filho@mda.gov.brEste endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo. ”

Os camponeses que vivem e trabalham nas terras conquistadas da fazenda Santa Elina, remanescentes da batalha de 1995, mantém altas suas bandeiras de luta pela defesa de sua conquista.

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