terça-feira, 21 de junho de 2011

UPP: Inúmeros abusos no rastro da militarização no Rio de Janeiro

Jovem assassinado trabalhava desde os 16 anos
Enquanto a UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) avança sobre o morro da Mangueira e favelas vizinhas, em outras já militarizadas, cresce o clima de terror frente à presença permanente da PM. Na madrugada de domingo, dia 12 de junho, no morro Pavão-Pavãozinho, o comerciante André de Lima Cardoso Ferreira , de 19 anos, foi baleado por policiais da UPP e faleceu horas depois no hospital Miguel Couto. Sua mulher, de 16 anos, grávida de 8 meses, desesperada, procurou a ativista Deise Silva de Carvalho, que teve seu filho Andreu Luís torturado até a morte por seis agentes do Degase (Departamento Geral de Ações Sócio-educativas), no interior do CTR — Centro de Triagem, em 2009. Militantes da Rede de Comunidades e Movimentos Contra a Violência também estiveram no local e ajudaram a famílias do rapaz a buscar a justiça.
O monopólio dos meios de comunicação, como de praxe, fez coro com os porta-vozes do gerenciamento de Sérgio Cabral defendendo os policiais que assassinaram o rapaz. Segundo o comando da UPP, o rapaz estaria armado e teria disparado contra os PMs. Contudo, dias depois, a assessoria de imprensa do supermercado Carrefour se pronunciou dizendo que André era seu funcionário. Quando esteve no local, nossa equipe checou a carteira de trabalho do rapaz e constatou que, desde os 16 anos, André trabalhava de carteira assinada.
Quando nós chegamos no hospital, ele estava sem roupa. O celular dele sumiu, os documentos dele sumiram. Se ele estava armado, deu tiro, porque os PMs não registraram o que aconteceu? A gente estava voltando pra casa e eu fui subindo o morro enquanto ele comprava um lanche pra mim. Dez minutos depois, tocaram lá em casa dizendo que ele tinha sido baleado. Um taxista socorreu ele, porque os PMs deixaram ele lá, sofrendo. Não aceito que digam que ele era bandido. A gente morava no Jardim América e viemos pra cá fugindo disso. A gente achava que morro com UPP era mais tranquilo para criar nosso filho, mas nos enganamos. Meu marido era trabalhador e agora eu terei que criar esse filho sozinha — protesta a viúva.
Segundo moradores que não quiseram se identificar, André teria sido abordado por PMs que, fazendo jus ao toque de recolher, gritaram com o rapaz e o xingaram por estar na rua durante a madrugada. O rapaz bateu boca com os policiais. Depois de liberado, André teria recebido um tiro nas costas dos PMs que, além de tudo, o deixaram agonizando no local.
No morro do Tuiuti, em São Cristóvão, a chegada da UPP deixou os moradores apreensivos. Na noite de sexta-feira (17), nossa equipe recebeu várias ligações de moradores denunciando inúmeros abusos cometidos por PMs no primeiro dia de militarização. Um jovem de 12 anos, dependente químico, usuário de crack, teria sido espancado por policiais e só não faleceu porque foi socorrido por moradores. Mototaxistas e jovens foram agredidos e interrogados pelos PMs. Ainda segundo as denúncias, várias casas foram reviradas e tiveram seus portões arrombados.

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