terça-feira, 29 de junho de 2010

India: Depoimento de Arundhati Roy às jornalistas Amy Goodman e Anjali Kamat

E ainda dizem que vivemos em uma “democracia...”

Trechos do testemunho da escritora, proeminente democrata e ativista popular indiana Arundhati Roy às jornalistas Amy Goodman e Anjali Kamat.

Extraído da página na internet revolucionnaxalita.blogspot.com, traduzido e adaptado por A Nova Democracia

Pergunta: Seu último artigo publicado na Índia se denomina “Caminhando com os camaradas”. Comece por nos dizer o que está acontecendo nas selvas da Índia. O que é esta guerra que o Estado indiano deflagrou contra alguns dos mais pobres, povos conhecidos como tribais, os adivasis. Quem são os maoístas? O que está se sucedendo ali?

Arundhati Roy: Vejam bem, isto vem ocorrendo há bastante tempo, mas basicamente há uma conexão. Se observarmos o Afeganistão, Waziristão, os estados do nordeste da índia e todo o cordão de minérios que vai de Bengala Ocidental através de Jharkhand, o de Orissa a Chhattisgarh, este lugar que chamam de Corredor Vermelho, nos daremos conta de que estamos diante de uma insurreição tribal.

Estamos falando de uma insurreição radical de esquerda. Mas o ataque que estes pobres sofrem é o mesmo que no Afeganistão. É um ataque corporativo o que se passa contra esta gente. A resistência tem tomado diferentes formas.

Nos últimos cinco anos os governos dos diversos estados por onde passa o Corredor Vermelho, (onde concentram-se as jazidas de minerais, os povos tribais e os maoístas), têm firmado memorandos de acordo, tratados pela sigla MOU, com corporações mineradoras no valor de milhões de dólares. Ironicamente poderíamos dizer que esse é um corredor “MOUista”, tal como por outro lado a resistência forma um “corredor maoísta”.

O intrigante é que muitos desses memorandos foram firmados em 2005. Foi justamente quando este governo havia chegado ao poder e o primeiro ministro Manmohan Singh anunciou que os maoístas constituem na Índia “a maior ameaça para a segurança nacional”. Foi muito estranho que dissesse isso, porque na realidade os maoístas haviam sido dizimados no Estado de Andhra Pradesh. Penso que haviam matado uns 1.600. Mas quando isso ocorreu, as ações das companhias mineradoras subiram de preço. Este foi um sinal óbvio de que o governo estava disposto a fazer algo a respeito. Então começou o ataque contra os maoístas batizado Operação “Caçada Verde”, que agora mobiliza dezenas de milhares de tropas paramilitares contra estas áreas tribais.

Antes da Operação “Caçada Verde”, as forças repressivas formaram uma espécie de milícia tribal, respaldada pela polícia, em um Estado como Chhattisgarh, lugar para onde viajei recentemente. Estas milícias queimaram uma aldeia atrás da outra, umas 640 aldeias foram esvaziadas (e seus moradores expulsos ou massacrados).

O plano era criar o que o Estado indiano chama de “aldeias estratégicas”. O mesmo que os ianques fizeram no Vietnã e os britânicos fizeram na Malásia. Se trata de obrigar a população a ingressar em campos de concentração para poder controlá-los. Dessa forma, as aldeias circundantes se esvaziavam e as selvas ficavam livres para a entada das corporações estrangeiras.

O que aconteceu realmente em Chhattisgarh foi que perto de 350 mil pessoas, ou seja, umas 50 mil famílias, foram deslocadas para esses campos. Algumas foram obrigadas, outras voluntariamente. O certo é que os maoístas estão em toda essa área ao longo de trinta anos trabalhando com o povo.

A Operação “Caçada Verde” foi lançada porque essa milícia paramilitar chamada Salwa Judum fracassou. Agora o Estado indiano está aumentando as apostas pois os famosos “memorandos” estão à espera e as corporações estrangeira não estão acostumadas a esperar. Há muito dinheiro em jogo.

Por isso dizemos que não estamos denominando esta operação de “guerra genocida” livrescamente ou retoricamente. Eu estive nessa área e o que se vê lá é a gente mais pobre deste país, um povo que está fora do alcance do Estado. Não há hospitais, não há educação, não há nada. E agora há uma espécie de cerco no qual o povo não pode sair para ir ao mercado comprar algo porque eles estão cheios de policiais e agentes da inteligência que informam que tal ou qual pessoa está com a resistência.

O povo sofre de fome extrema e desnutrição. De modo que isso não é apenas matar. Não se trata apenas de queimarem e matarem. Eles estão cercando uma população muito vulnerável, isolando-a de seus recursos e expondo-a a uma penosa ameaça.

E ainda dizem que vivemos em uma “democracia...”



Capa da revista Outlook com o relato de Arundhati Roy

"Caminhando com os camaradas"



4 comentários:

coquetelmolotov disse...

Sou militante do pstu. Queria saber qual a relação de vc's com os partidos de esquerda no Brasil?

Anonymous disse...

Querido Camarada,
Prezado Companheiro de Blog
li o seu comentário e dou a minha resposta apesar de não se a resposta do Jornal.
A relação do Jornal com os partidos de esquerda no Brasil pelo que eu leio é que desde a primeira edição em 2002 é que se sustenta a tese da existência de um partido único no Brasil .Solicito especialmente a leitura do último editoria Á PÁGINA 03 EM QUE SE REPETE A MESMA TESE. oUTROSSIM NÃO VOU REPISAR AQUI OS FUNDAMENTOS CONSTANTES NO EDITORIAL.
APROVEITO APENAS PARA ACRESCENTAR QUE OS MAOÍSTAS LUTAM PELA RECONSTITUIÇÃO DO PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL -P.C.B EM CONTINUAÇÃO AO PCDOB ATÉ 1976 APÓS O MASSACRE DA LAPA COM A MORTE DO ÚLTIMO COMUNISTA QUE RESPEITAMOS O CAMARADA PEDRO POMAR. APROVEITO AINDA PARA ESCLARECER QUE ESTA RECONSTITUIÇÃO NÃO VISA REGISTRO NO TSE MUITO MENOS EXISTÊNCIA LEGAL NO REGIME BURGUÊS.
ESCLAREÇO QUE FALO AO CAMARADA COM MUITA RESERVA POR MEDO DE REPRESSÃO.
ALÉM DO MAIS EM UM CANAL MAIS SIGILOSO PODEREMOS APROFUNDAR UM POUCO MAIS.
ASSIM, RECONHECEMOS APENAS O PARTIFO FUNDADO EM NITERÓI EM 1922 COM A CISÃO DO PCDOBÊ EM 1962 ATÉ 1976 DEPOIS DISSO NÃO RECONHECEMOS NENHUM PARTIDO QUE PARTICIPE DE QUALQUER FORMA DO REGIME BURGUÊS.
ESPERO A SUA COMPREENSÃO PELA DIFICULDADE DO MEIO E DA MENSAGEM
INDICO AINDA PARA LEITURA A OBRA
"CARTA CHINESA " DAMESMA EDITORA DO JORNAL EDITORA AIMBERÊ PARA MELHOR COMPREENSÃO DA QUESTÃO;
SAUDAÇÕES COMUNISTAS

CAMARADA GENIAL

Anonymous disse...

p.S. cAMARADA COQUETELMOLOTOV
REFIRO-ME AO ARTIGO A FARSA DA ELEIÇÃO PREBISCITÁRIA.
ASSIM, DIGO AINDA QUE AS ÚNICAS NOTÍCIAS QUE NOS CHEGAM DA ÍNDIA COM RELAÇÃO A ESTE CONFLITO É NA CBN ÁS 7:30 QUANDO SAI O BOLETIM DA BBC BRASIL ONDE SE DIZ QUE MAOÍSTAS REALIZARAM MAIS UM ATAQUE E ASSIM POR DIANTE.
CAMARADA GENIAL
o TRIBUNO DA PLEBE

José Ricardo Prieto disse...

Prezado Coquetel molotov

Falo em nome da redação de AND.
Primeiramente pedimos desculpas pela demora na resposta a seu comentário. Se tivéssemos sido mais rápidos, não haveria margem a algumas confusões postadas pelo leitor acima.
Como dizemos no jornal impresso e em nosso site, "Nosso jornal não é órgão de nenhum partido político". Não temos vínculo com nenhum partido eleitoreiro. Para nós, as eleições são uma farsa destinada a enganar as massas com promessas renovadas de que é possível uma mudança através do voto, coisa que se renova de dois em dois anos no país. Os partidos de "esquerda" que participam desse processo não fazem mais que referendá-lo, uma vez que se apresentam com a alternativa à direita tradicional. enfim, esse é um assunto que demandaria muito espaço, o que não somos capazes de fazer aqui. Indicamos a leitura de nossos artigos sobre as eleições, publicados em várias de nossas edições.
O livro indicado pelo "camarada genial", A Carta Chinesa, não é uma publicação de nossa editora, mas do Grupo de Estudos do Marxismo-leninismo-maoísmo.
Não somos maoístas, senão que expressamos o melhor do pensamento democrático em nosso país, da verdadeira independência nacional, da expulsão do imperialismo, destruição do latifúndio e o fim do capitalismo burocrático.
Estamos à disposição para qualquer dúvida. Se preferir, escreva direto para nosso e-mail anovademocracia@gmail.com

Saudações democráticas
José Ricardo Prieto
A Nova Democracia